Humm...
Eu sou uma pessoa estranha. Que se farta de alguns fandoms que já amou rapidamente, e que preserva outros por uma eternidade. Mais estranho ainda é o que eu estou a fazer agora: já resenhei este anime, No.6, uma vez. Foi uma resenha mais direta e "breve", e que mesmo assim aprofundava pontos suficientes para ser considerada uma recomendação aceitável. A resenha que eu vou fazer agora é muito maior, mais dispersa, possivelmente confusa, mas expressa melhor o quanto eu amo esse anime. É o tipo de resenha que pouca gente gosta de ler, mas em que eu me empolgo imenso ao escrever. Então, mesmo com mais posts que deveriam estar a ser postados no momento, e mesmo com o facto de eu andar tão ocupada, e ainda considerando que tenho uma montanha de comentários para responder... Aqui está a verdadeira resenha, na qual pretendo também abordar a questão do relacionamento homossexual dos protagonistas e as críticas à sociedade que No.6 faz, e defendendo-o até aos dentes, já que tanta gente subvaloriza a obra. Então, mesmo já a tendo postado no meu blog principal, considero que é um bom post de estreia, por estar tão completo. Quem se identificar com o que eu sinto levante o braço \o/
Admito: Eu IDOLATRO No.6. Quando fiz a primeira resenha, só tinha visto o anime, mas agora já li o mangá - é o primeiro que estou a tentar colecionar, já que eu costumo ler apenas pela internet - e só ainda não li a novel porque nas férias de verão do ano passado fui atacada por alergias, e durante o ano não tive tempo. Tenho outras coisas para ler, e não me pude dar ao luxo de me embrenhar nessa história infinitas vezes.
Mas é um anime/mangá/novel que significa imenso para mim. Foi graças a ele que eu me tornei fujoshi, e não, eu não quero obrigar ninguém a tornar-se fujoshi - até porque alguns yaois são mais pesados, podem incomodar certas pessoas e muitos deles vão até mesmo contra alguns dos meus princípios éticos. Um post excelente da Hinata sobre os defeitos do yaoi aqui: www. O que é yaoi? Relacionamento homossexual entre dois homens. Resumidamente, pode-se considerar que, se o romance for muito leve, é um shounen-ai, e é assim que eu classificaria No.6, embora o romance não seja o foco prncipal. Há quem ame, há quem deteste, há quem aja de forma indiferente, e há quem sinta nojo por isso. Eu não gostava de yaoi quando assisti No.6, mas vou transcrever a minha resposta a um comentário do blog que resume bem como foi a minha experiência ao ver esse anime: "Em No.6, há uma história muitíssimo bem construída, e a relação entre os dois rapazes protagonistas é também lenta e bem explorada, de forma ainda mais delicada - mas simultaneamente profunda - do que em muitos shoujos. Antes de eu perceber, esqueci-me de que eram personagens do mesmo género, pois separá-las seria a coisa mais absurda de se fazer. Eles realmente precisavam e mereciam estar juntos. E antes do fim do anime, dei por mim a pensar que o facto de serem do mesmo género até dava um ar bonitinho à história, uma espécie de charme extra, pois é raro um relacionamento homossexual ser retratado com tanta naturalidade em qualquer forma de mídia." Uma análise completa do relacionamento aqui: www
É preciso explicar mais? O anime pode ter algumas falhas para quem se preocupa com minúcias em termos de enredo, mas para mim o ponto forte são as personagens: o seu desenvolvimento, a forma como são moldadas pelo ambiente que as rodeia e pelos acontecimentos e a forma como se relacionam entre si. Num post (em que praticamente ninguém comentou -.-) eu referi como as personagens são algo importante para mim, mas vamos lá passar a uma recomendação organizada, não é?
Ficha técnica
- Novel: Escrita por Atsuko Asano, 9 volumes publicados entre 2003 e 2011
- Primeiras ilustrações: Toi8 (são as ilustrações neste post)
- Mangá: Ilustrado por Hinoki Kino, com base no design de Toi8, 9 volumes
- Anime: Adaptado pelo estúdio Bones, 12 episódios
- Edições: no brasil foi lançado pela NewPop, e a melhor edição inglesa é de Kodansha Comics
Enredo
No.6 é uma história sobre uma cidade e 2 rapazes.
A obra começa por nos introduzir a cidade de No.6, delimitada por um muro e considerada utópica: é computarizada, todos os moradores são educados, fiéis à cidade e têm um estilo de vida correto, e os alunos prodígios (ou elite) são recompensados vivendo nas zonas mais seguras e ricas da cidade. Shion é um desses rapazes prodígios, estudante de biologia e medicina. No dia em que completa 12 anos, há uma tempestade, e tomado por um impulso, Shion sai à varanda para gritar. É assim que Nezumi (o nome dele significa Rato), um rapaz misterioso considerado criminoso e ferido por uma bala, consegue entrar no quarto de Shion. Porém, em vez de este o denunciar, decide tratar Nezumi e ajudá-lo a escapar.
Foi um acontecimento que mudou completamente a vida de Shion, mas do qual este nunca se arrependeu, apesar de ter perdido todos os privilégios. Ele e a mãe tiveram de ir viver para uma zona mais modesta da cidade, ainda dentro dos muros, e ele teve de desistir do seu curso. Vemos que, 4 anos depois, ele trabalhava na manutenção de robôs que faziam a recolha de lixo num parque. Acho que isso traduz bem a mudança, certo? Bom, sucedem-se acontecimentos estranhos: num curto espaço de tempo, Shion crê ver Nezumi de novo e duas pessoas, uma delas um amigo de Shion, são vítimas de uma doença repentina que, huh, mistura abelhas, velhice e rigor mortis (?).
De repente, é revelado que o governo da cidade manipula a informação e que estava a planear livrar-se de Shion, um cidadão pouco leal, incriminando-o pelos acontecimentos recentes. Contudo, Nezumi esteve a vigiá-lo nesses quatro anos, e pagando a sua dívida, salva Shion arrastando-o para o exterior dos muros da cidade (Distrito Oeste), onde ele terá de aprender mais sobre a dureza da vida. Até que ponto isso irá afetá-lo? Terão de ver a obra para descobrir...
Personagens
- Shion: Um prodígio, entende principalmente de biologia. Um certo incidente que quase o matava deixa-o com cabelo branco e olhos vermelhos, mas originalmente eram ambos castanhos. Talvez seja um bocado ignorante sobre os problemas da vida, mas isso nunca fez dele exageradamente inocente. Ele sempre teve suspeitas sobre a cidade, tem atitude e sabe defender-se quando é necessário. Quanto tenta confiar nas pessoas e prezar os seus sentimentos, fá-lo porque quer e está ciente dos riscos. Além disso, não desanima facilmente.
- Nezumi (Rato): Teve um passado duro que o ensinou a não confiar nas pessoas, e a livrar-se de tudo o que o atrapalha, deixando-o num estado de desapego emocional. Tenta dar uma aparência de duro e frio, é muito racional, está habituada a arriscar a vida e a entrar em negócios difíceis. Sarcástico. Porém, tem mais sentimentos do que aparenta, e com o tempo é-nos revelado que além de bom lutador, ele é ainda um bom ator, adora ler e canta maravilhosamente - eis a voz dele: www
- Safu: Amiga de infância de Shion, sempre o apoiou mesmo quando este perdeu os privilégios - portanto, não entendo porquê que algumas fujoshis a detestam. É uma rapariga muito querida, sincera, direta e inteligente, além de bondosa, faz todo o sentido ela ter-se apaixonado pelo Shion. É estudante de psicologia e também uma aluna prodígio. Além disso, tem um papel mais importante do que inicialmente aparenta, embora só seja devidamente explicado no mangá e na novel.
- Inukashi: A guarda-cão do distrito Oeste, foi criada por uma cadela e tem um estabelecimento onde as pessoas dormem junto dos caninos, para não ficarem geladas à noite. É muito animada e um bocado rude, mas tem imenso medo de morrer. Na verdade, embora no anime seja definitivamente mulher, no mangá e na novel isso não está explícito.
- Rikiga: Um antigo jornalista que já foi apaixonado pela mãe de Shion, que vive no distrito Oeste e deseja mimá-lo como a um filho. Atualmente, vende rapariguinhas para manter um estilo de vida luxuoso, porém, não é má pessoa, só faz o necessário para se safar fora dos muros. Um nadinha idiota e covarde, mas ainda assim importante.
- Karan: Mãe do Shion, o marido separou-se dela quando o filho ainda era pequeno. É uma mulher com garra, pois aguenta a perda do filho e quando sabe que ele está vivo, consegue fingir que não sabe. Atenciosa, compreensiva, tem fé no Shion e cozinha muitíssimo bem.
Opinião:
Primeiro, sobre a história: sei que cidade distópicas-aparentemente-utópicas estão na moda, principalmente na moda literária, então No.6 não pode considerado lá tãaaaaaaaaaao original. Porém, é difícil ser-se original hoje em dia, então como fã que sou vou pedir que perdoem isso.
E para uma cidade distópica, é bastante bem explorada: são referidas coisas como manipulação de informação, o que nos dias de hoje está tão presente nos mass media, e como quem não é útil à cidade é descartado. As pessoas ignorantes - que na verdade têm acesso a montanhas de informação, esta apenas está sob controlo - são as mais felizes, as mais crentes na perfeição de No.6, e mesmo Shion, que já suspeitava de cidade aos 12 anos, fica chocado com as verdades que descobre do lado de fora. As pessoas acreditam que as altas tecnologias impedem que se morra com dores ou infeliz, pois sempre que alguém morre, o corpo é recolhido a tempo e os conhecidos só voltam a vê-lo quando este tem um sorriso na cara. O lado de fora dos muros funciona como sendo uma lixeira da cidade, para coisas, e para pessoas, pois os cidadões pouco leais são "despejados" para lá, e isto se tiverem sorte. As pessoas idosas, que já não são úteis para trabalhar, são levadas para um lar de idosos onde aparentemente serão felizes, mas as coisas não são bem assim. Com tudo tão computarizado, as pessoas no interior da cidade nunca tocaram num livro.
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